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Psicologia e Religião

  • Foto do escritor: Ciência x Religião
    Ciência x Religião
  • 9 de out. de 2019
  • 30 min de leitura

Atualizado: 7 de dez. de 2019

Ciência e Religião


Analisando a doutrina do Vale do Amanhecer o que poderia ter uma suposta credibilidade seria os trabalhos nos tronos que é a pratica de invocar espíritos, e mesmo assim de acordo com os próprios espiritas Kardecistas e outros é feita de forma errada, pois não poderia ser feito em um ambiente onde vários médiuns ao mesmo tempo atende uma grande quantidade de pacientes. E é explicado pela ciência como um processo da própria mente humana.


A pratica de invocar espíritos.


O que diz a ciência.


Eles vêem espíritos.


Para a ciência, ver e ouvir fantasmas não tem nada de sobrenatural: tudo é criado pelo cérebro. Agora os cientistas tentam explicar por que tanta gente, em diferentes épocas e civilizações, afirma ver espíritos.


No Vale do Amanhecer nos templos os trabalhos no trono o Apará médium que dizem ter o poder de receber incorporação dos espíritos, que isso na verdade é apenas auto-sugestões da mente coisa que é explicado e comprovado cientificamente pelo Dr. Julian Ochorowicz que foi um dos mais competentes e metódicos investigadores da sugestão mental, também conhecida como comando telepático, contrariando à argumentação espírita e não é nada no campo paranormal ou da mediunidade espiritual, mas como os membros estão sobre o efeito doutrinário e cognitivo da seita acham que conseguem ver luzis, vozes e receber espíritos, como em todas as religiões e seitas desde do inicio da humanidade e pode ser definido por ser um fenômeno mais psíquico do que divino pois existem e existiram vários deuses diferentes durante toda a existência da civilização humana.


Os médiuns na história


De fato, os cientistas que começaram a estudar esses fenômenos foram os que tratavam doenças mentais. Em 1889, o psiquiatra francês Pierre Janet foi o primeiro a propor a existência de uma segunda consciência. Para ele, quando a personalidade perdia a coesão (o fluxo normal de idéias e pensamentos), uma corrente secundária de idéias, vontades e imagens se sobrepunha à consciência, gerando automatismos motores e sensoriais – responsáveis pelos chamados fenômenos paranormais.


O contemporâneo William James, psicólogo americano, defendeu a tese de que a possessão mediúnica era uma forma de personalidade alternativa em pessoas que não tinham problemas mentais: uma espécie de dupla personalidade. Já o professor de cultura clássica Frederic Myers dedicou-se a estudar o inconsciente. Ele defendeu que existia na mente uma consciência subliminar, que raramente emergia – quando isso acontecia, o resultado era a manifestação mediúnica.


Até mesmo Sigmund Freud deu palpites sobre a mediunidade. Para ele, os estados de possessão correspondiam às nossas neuroses: os demônios seriam os desejos considerados maus que foram reprimidos. “Aos nossos olhos, os demônios são desejos maus e repreensíveis, derivados de impulsos instintivos que foram repudiados e reprimidos”, afirmou ele no livro Uma Neurose Demoníaca do Século 17, de 1923.

Depois da criação do eletroencefalograma, apareceram a ressonância magnética, a tomografia computadorizada e a ressonância funcional. Com elas, já se conseguiu mapear no cérebro até as áreas que despertam as emoções e controlam funções específicas do corpo, como enxergar em profundidade ou reconhecer faces.


Mas esses equipamentos não são suficientes para detectar a química envolvida na troca de impulsos elétricos e as alterações celulares de quem afirma ver espíritos. Para os cientistas, é por causa dessa falta de recursos mais precisos que os exames feitos pelo engenheiro Maurício não apontam anormalidades. “Quando o bebê está sendo formado, bilhões de células embrionárias migram para formar 6 camadas do córtex”, afirma a neurologista Elza. “Nem a melhor ressonância magnética consegue detectar falhas nesse nível.”


Mesmo assim, no mundo das hipóteses médicas, os relatos de retorno dos mortos à Terra não passam de ficção criada pela máquina chamada cérebro. Desde os primeiros estudos, a epilepsia virou explicação para manifestações de mediunidade, idéia que é seguida até hoje.


Ataques epilépticos são o ponto máximo da hiperexcitabilidade do cérebro, que responde mandando ao corpo reflexos não só motores. Epilépticos sofrem também reações olfativas – como sentir cheiros estranhos repentinamente – visuais e sonoras, como ter alucinações. Isso mesmo, alucinações, muito parecidas com as de quem afirma ver espíritos. “Uma excitabilidade diferente poderia ser a explicação para fenômenos não patológicos de visões e audições”, afirma Elza Yacubian.


Há tipos de epilepsia que são muito relacionados a relatos sobrenaturais. A epilepsia do lobo temporal do cérebro, por exemplo, provoca alucinações e induz à religiosidade. Essa parte do cérebro é tida como a responsável pela religiosidade: pessoas com lesões nela costumam desenvolver uma religiosidade extrema. Acredita-se, por exemplo, que o fanatismo religioso do pintor Vincent Van Gogh tenha vindo da epilepsia no lobo temporal.


Para o InterPsi, um grupo de pesquisadores da PUC-SP que se dedica a encontrar explicações lógicas e científicas para fenômenos sobrenaturais, a epilepsia é só uma das possíveis soluções do mistério. Além dela, outros estados alterados da mente se relacionam a alucinações. “Frequências sonoras, campos magnéticos e estados de transe podem provocar efeitos sensoriais”, afirma o psicólogo Welling­­­­ton Zangari, pesquisador do Laboratório de Psicologia Social da Religião na USP e membro do InterPsi.


Zangari cita o caso que aconteceu num escritório de engenharia da Inglaterra na década de 1980. Vários funcionários afirmavam ver fantasmas em uma das salas, que em pouco tempo ficou conhecida como mal-assombrada. Foi um engenheiro do próprio escritório, chamado Vic Tandy, que desfez o mito: as aparições eram, na verdade, uma reação do globo ocular, que vibrava influenciado pela frequência de infra-som de um ventilador, borrando a visão de quem entrava ali.


Sabe-se, também, que alucinações são comuns em pessoas com estados graves de fome ou em quem fica 3 dias sem dormir. “Nessas situações, os neurônios funcionam de forma anormal, criando uma realidade paralela”, afirma a neurologista Kátia Lin, da Unifesp. “Não significa que a pessoa esteja louca ou doente.”


Se o cérebro é a chave para as alucinações, os cientistas se dedicam agora a saber quais circuitos movem essa engrenagem. Em setembro passado, o médico Olaf Blanke, da Escola Politécnica de Lausanne, na Suíça, criou em laboratório aquela sensação desagradável de ter uma presença parada às costas. A cobaia foi uma mulher de 22 anos, com epilepsia, que se submetia a uma cirurgia para retirar a lesão que provocava as crises.


A equipe de Blanke aplicou estímulos elétricos em pontos do lado esquerdo do cérebro. A reação foi sinistra: a mulher sentiu que alguém estava atrás dela. Empolgados, os médicos estimularam ainda mais a área e a paciente foi capaz de descrever o ser invisível como uma pessoa jovem. Os pesquisadores, então, pediram que ela tentasse abraçar os joelhos. Ao se abaixar, a mulher podia jurar que a presença que sentia tinha segurado seus braços.


A área estimulada está relacionada à noção corporal – sem ela fica impossível, por exemplo, mexer os braços na hora de trocar de roupa, por mais que o braço esteja perfeito. Para o médico Olaf Blanke, estímulos nesse ponto podem explicar não só a presença fantasma, como também os relatos sobre viagens feitas fora do corpo. A tese é reforçada por uma experiência similar realizada em 2002. Ao tentar identificar a área de lesão de uma inglesa de 43 anos, com epilepsia havia 11, Blanke estimulou o giro angular, uma área que fica na parte posterior do lobo temporal, e se surpreendeu com o resultado: a mulher sentiu como se tivesse saído do corpo e levitado 2 metros acima da mesa de cirurgia. “O giro angular é importante para processos cerebrais associados à experiência extracorpórea”, afirmou Blanke na revista Nature.


Tentar reproduzir fenômenos espirituais em laboratório não é novidade. Desde a década de 1980, o neurologista canadense Michael Persinger faz testes com ondas eletromagnéticas em pessoas normais. A experiência consiste em colocar capacetes, que geram uma espécie de campo magnético, em voluntários vendados, dentro de uma sala escura e com isolamento acústico. À medida que o pesquisador estimula o lobo temporal, os voluntários têm sensações de fazer inveja a qualquer usuário de alucinógenos: olhos que se mexem e viram luzes roxas, visões de incêndios, demônios, deslocamento do corpo e cenas da infância como se acontecessem no presente.


Ou seja: para a neurologia, ver espíritos é resultado de uma disfunção cerebral ainda não diagnosticada. Os sintomas são parecidos com os de doenças como epilepsia, esquizofrenia (que provoca alucinações auditivas e delírios de perseguição), tumores cerebrais (que podem causar alucinações) e transtorno de identidade dissociativa, quando o doente tem dupla identidade, ouve vozes e muda sua caligrafia. Mas a causa seria bem diferente da dessas doenças e estaria relacionada a erros de sinapse do cérebro. “Se há áreas do cérebro capazes de fazer contatos por telepatia, a ciência simplesmente não tem como refutar ou comprovar”, diz a neurologista Kátia Lin. Talvez nem mesmo o cérebro abrigue todas as explicações. “Há uma tendência hoje de reduzir tudo a causas cerebrais”, diz o psicólogo Wellington Zan­gari, do InterPsi. “Mas não dá para entender tudo sem um olhar antropológico, cultural e psicológico.” Fonte - https://super.abril.com.br/ciencia/eles-veem-espiritos/


Para saber mais.

Epilepsia: Da Antiguidade ao Segundo Milênio

Elza Yacubian, Lemos Editorial, 2000.

Site do grupo de pesquisa InterPsi, da PUC-SP.

Revista de Psiquiatria Clínica.


Cérebro e Mente.


Imagine estes computadores que usamos o cérebro, dividido e hardware e software. O hardware é a máquina o físico, o software, o aplicativo é a mente. O que o aplicativo mandar para a máquina vai rodar. O que estou dizendo é da responsabilidade que nós temos de sanear a nossa mente...


Antes as pessoas falavam que alguém inteligente era um “crânio”. “Atualmente, é de conhecimento geral que o crânio é apenas o revestimento ósseo que protege o cérebro. Depois passaram a dizer que uma pessoa inteligente era um cérebro”.


Hoje, o conceito de cérebro trata de uma entidade material localizada dentro do crânio, que pode ser visualizado, tocado e manipulado.


O cientista ressalta que é impossível explicar o que seja a mente. “O máximo que pode ser feito é dizer que a mente é imaterial, uma entidade separada do corpo”, esclarece. Inúmeros estudos, pesquisas e reflexões estão sendo feitos para tentar decifrar esse “mistério”, mas trata-se de um fenômeno complexo que pode ser associado ao pensamento, à consciência e a várias outras áreas. “É importante saber que, futuramente, sem prazo definido, a mente venha a representar a essência da existência humana”.



A relação entre a mente e o cérebro.


As conceitualizações e teorias da mente diferem em função do tempo cronológico, das crenças religiosas e das filosofias antigas e modernas. As primeiras explicações teóricas da mente (Platão e Aristóteles e, mais tarde, os filósofos medievais) associavam a mente com a alma, a considerando imortal e divina. Na maioria dos casos, incluindo pontos de vista modernos, colocam a mente, o pensamento e a consciência no contexto da experiência e do entorno. Que a mente é geralmente considerada uma propriedade de si mesmo é evidente em algumas expressões populares como "abra a sua mente", "tire da sua mente" ou "minha mente sabe". A memória, a atenção, a lógica, a intuição, a resolução de problemas, a capacidade para se comunicar e, dependendo da teoria, a emoção, depressão e os processos inconscientes são algumas das principais características da mente.


A relação da mente e o cérebro é evidente em todos os debates sobre a mente, e mais recentemente no discurso psiquiátrico e neurocientífico. A ciência cognitiva e a estão participando atualmente na compreensão de como os processos cerebrais, o comportamento e a cognição interagem. A neurociência cognitiva está envolvida ativamente na investigação de como os seres humanos, organismos ativos e pensantes, usam seus cérebros para atingir suas metas e satisfazer as suas necessidades no contexto de entornos complexos e mutáveis. Esta investigação mostra conexões inextricáveis entre a , que se considera baseada na mente, e o entorno e entre a cognição e a ação, que considera que tem uma base física. A investigação recente baseada na ressonância magnética funcional mostra que os aspectos específicos da cognição sensorial e motora básica, assim como processos mais complexos de reconhecimento facial e de palavras, ou como o pensamento, todos eles considerados como baseados na mente, estão apoiados pelas zonas cerebrais com alto grau de especialização nos nossos processos, o que sugere que a interação mente-cérebro ocorre através dos mecanismo cerebrais altamente especializados. A memória episódica, por exemplo, a capacidade de lembrar o que aconteceu com você e quando o fez, e que se acredita que é exclusivamente humana, é uma habilidade importante da mente humana. Foi investigada buscando através da neuroimagem em regiões específica da memória episódica cerebral do lobo frontal (diferentes dos relacionados com a memória semântica), descobrindo que ligam ainda mais o cérebro e a mente.


A relação entre o cérebro e a mente é especialmente importante no campo da psiquiatria que implantou o tratamento a longo prazo invés da dicotomia mente/cérebro. Gabbard 2005, afirma que o cérebro e a mente não são entidades separadas, mas que "a mente é a atividade do cérebro". Gabbard, 2005, deplora a ampla associação psiquiátrica dos genes, medicações e fatores biomédicos às entidades cerebrais, e entorno, psicoterapia e fatores psicossociais à mente, e defende por unidade de mente e cérebro, com ênfase no caráter inseparável da interação entre os genes e o meio ambiente, assim como entre os fatores psicossociais e a estrutura do cérebro. A polarização do cérebro e da mente na psiquiatria contemporânea, e a subsequente visão de que a medicação está indicada para distúrbios biológicos ou cerebrais enquanto que a psicoterapia é apropriada para distúrbios psicológicos ou mentais, é, na sua opinião, um erro que atrasa a aplicação de tratamentos integrais bio-psicossociais.


Neste contexto de investigação psiquiátrica do cérebro, existem provas de neuroimagem que mostras que as variáveis mentais associadas com a mente jogam um importante papel na base neurofisiológica da conduta dos seres humanos. Esta conclusão é baseada nos resultados das investigações de neuroimagem do efeito da psicoterapia em pacientes com transtorno obsessivo compulsivo, transtorno de pânico ou transtorno depressivo maior unipolar; o que demonstra que as funções e os processos implicados na atividade cerebral afetam a atividade cerebral e a plasticidade. Os resultados dos estudos sobre o efeito placebo também convergem para a mesma conclusão, ou seja, que os processos mentais baseados na mente produzem atividade cerebral. Estes estudos mostram que a mera crença e a expectativa criada pela ingestão de um medicamento placebo, modula a atividade fisiológica e química do cérebro. Fonte. https://www.cognifit.com/br/mente


Cérebro como a Mente Funciona.


"Cérebro no Comando – Neurociência está no nosso dia a dia" o cérebro maestro, organizador, seletivo e integrador dos sistemas biológico, psicológico e social que organizam nossos pensamentos, desejos, emoções, movimentos por meio dos sentidos e percepções. O cérebro e a mente possuem uma infinidade de possibilidades que precisam ser potencializadas e desenvolvidas. “O cérebro é o nosso fiel escudeiro, use-o para não perder suas potencialidades.”



Neurobiologia das emoções.


A tematização das emoções como questão relativa ao conhecimento é uma perspectiva bastante arcaica na cultura ocidental. Voltando os olhos ao mundo grego antigo, é possível encontrar no conceito de paqos (pathós) a ideia de paixão, entendida no âmbito da filosofia helênica como raiz dos males e da infelicidade do homem, devendo, pois, ser moderada e, quiçá, dominada. Inscreve-se neste horizonte, por exemplo, a concepção platônica de alma tripartida, sendo mortais as duas porções correspondentes às emoções – concupiscente e irascível – e imortal (divina) a alma racional.


Assim, pois, a complexa relação emoção–razão tornou-se mote recorrente no pensamento de diferentes filósofos, os quais formularam concepções, as mais variadas, para explicar as origens e o papel das emoções na condição humana. Este foi, precisamente, o caso do pensador francês René Descartes, que, em suas Meditações Metafísicas, chega à concepção de uma substância pensante (res cogitans) completamente separada da "substância do mundo" (res extensa), facultando, assim, uma genuína cisão entre corpo e mente. Para Descartes, a res cogitans pertence à razão e ao pensamento, enquanto ao corpo (res extensa) pertencem as emoções, caracterizáveis como confusas e não críveis em relação aos conteúdos de verdade. Ao contrário, o filósofo Baruch de Spinoza concebia que a "substância pensante e a substância extensa são uma mesma substância, ora compreendida como um atributo, ora como outro" (Spinoza, 1997: Livro II, Proposição VII)5. Nesses termos, razão e emoção e, de resto, a própria constituição orgânica – pertenceriam a uma mesma natureza.


De um problema genuinamente filosófico, as relações entre corpo e mente e entre razão e emoção passaram a ser também investigadas no âmbito teórico de outros saberes, como a psicologia, a psicanálise e a biologia, a partir da segunda metade do século XIX e princípios do século XX. O que marca esse período é o interesse científico voltado para os processos cognitivos, os quais incluem as atividades mentais relacionadas à aquisição de conhecimento e conectadas ao raciocínio e à memória. Esse anseio elucidativo explica-se pela maior comensurabilidade da cognição, levando ao desenvolvimento da chamada "revolução cognitiva". A partir de então, realizaram-se inúmeras investigações, as quais culminaram na proposição dos mecanismos envolvidos na percepção, atenção e memória. Ademais, os poucos autores que se voltavam às emoções, concebiam-nas de modo "segmentado", tratando os "circuitos emocionais" como eventos à parte e independentes das demais atividades neurais.


Mais recentemente a partir do desenvolvimento de novas técnicas especializadas de pesquisa em neurofisiologia e em neuroimagem, vem-se ampliando o interesse pelo estudo das bases neurais dos processos envolvidos nas emoções, a partir da caracterização e das investigações sobre o sistema límbico (SL). Sabe-se, com base em diferentes resultados, que há uma profunda integração entre os processos emocionais, os cognitivos e os homeostáticos, de modo que sua identificação será de grande valia para a melhor compreensão das respostas fisiológicas do organismo ante as mais variadas situações enfrentadas pelo indivíduo. Assim, reconhece-se que as áreas cerebrais envolvidas no controle motivacional, na cognição e na memória fazem conexões com diversos circuitos nervosos, os quais, através de seus neurotransmissores, promovem respostas fisiológicas que relacionam o organismo ao meio (sistema nervoso somático) e também à inervação de estruturas viscerais (sistema nervoso visceral ou da vida vegetativa), importantes à manutenção da constância do meio interno (homeostasia).


Apesar desses avanços, muito se tem discutido sobre a possibilidade de se tratar, cientificamente, as questões relativas à emoção. Com o desenvolvimento das neurociências, postula-se que, como a percepção e a ação, a emoção é relacionada a circuitos cerebrais distintos. Ademais, as emoções estão geralmente acompanhadas por respostas autonômicas, endócrinas e motoras esqueléticas – que dependem de áreas subcorticais do sistema nervoso, as quais preparam o corpo para a ação. Com efeito, acredita-se que a ciência será capaz de explicar os aspectos biológicos relacionados à emoção, mas não o que é a emoção: esta permanece como uma questão prevalentemente filosófica.


Com base nessas premissas, o objetivo do presente trabalho é discutir os aspectos atuais da neurobiologia das emoções partindo do conceito de SL, pontuando, ainda, a importante relação entre os processos emocionais e o sistema nervoso autônomo, destacando sua interferência no controle neurovegetativo. Fonte. www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832008000200003




CÉREBRO É POTÊNCIA


CIÊNCIA / CINEMA / ESPIRITUALIDADE / ESPORTES


Prepare-se para descobrir que experiências como meditação, surf, filmes, música e religião são capazes de provocar nos neurotransmissores os mesmos efeitos que alucinógenos; mas até onde vai nossa consciência?


Cérebro é potência. A química da massa cinzenta dentro de nosso crânio cria tudo o que sentimos, vemos, pensamos. As portas da percepção da realidade, como definiu Aldous Huxley, são, na verdade, receptores de neurotransmissores nas membranas dos neurônios. Há milênios, buscamos expandir e explorar essas portas e, assim, experimentar estados alterados da consciência.


“Mesmo que você volte ao estado normal, experimentar estados alterados de consciência revela novas perspectivas da existência, o que pode se transformar numa vantagem adaptativa”, sugere o neurocientista Stevens Rehen. Substâncias psicoativas, como LSD e DMT (dimetiltriptamina), são capazes de abrir os portais mentais que nos levam a essa realidade em que a lógica do tempo é distorcida e os limites da individualidade se dissolvem. Mas, na real, não precisamos de nada além de nosso próprio cérebro para mexer com a consciência.


Tomar um negocinho – seja um ácido, ayahuasca ou um copo de água com MDMA – tem os mesmos efeitos neuroquímicos que viver alguns tipos de experiências intensas em que estamos totalmente focados como, por exemplo, meditar, surfar uma onda gigante, rezar ou se entregar a um pornô na internet.


“Todos nós experimentamos estados alterados de consciência. Alguns têm isso através do esporte, outros com a religião ou uma substância psicoativa. São decisões individuais”, explica. Apesar disso, todos temos o mesmo cérebro, que segue evoluindo nos últimos 70 mil anos, e serve como substrato para os estados alterados de consciência, seja você um religioso em transe, seja uma garota vidrada em filme pornô. “É interessante observar como algumas dessas atividades são moralmente aceitas e outras, não. Consumo de drogas e pornografia são malvistos, enquanto cultos religiosos nem pagam impostos”, diz Stevens.


O que acontece no cérebro em momentos de consciência alterada é, muito simplificadamente, uma redução da influência do córtex pré-frontal sobre o restante do cérebro, e aumento da disponibilidade de serotonina, que funciona como uma chave para as tais portas da percepção. Essas interferências estão intimamente ligadas a experiências que despertam em nós a sensação de pertencimento. “É uma região cerebral conectada à noção de individualidade e sobre o que está à nossa volta”, explica Stevens.


O biólogo e neurocientista Tiago Bortolini estuda a relação entre a ideia de fusão de identidade e as torcidas de futebol. “Em um jogo importante, os torcedores que se identificam muito com os clubes sentem que a torcida e o time são uma coisa só. É muito semelhante à sensação de pertencimento provocada por drogas como o LSD”, conta. “Algumas das emoções mais sublimes que vivi envolvem futebol. Me sinto muito viva, que sou parte de um todo. Eventualmente, consigo alcançar a mesma sensação de quando medito no momento em que o Corinthians marca um gol no último minuto de um jogo importante”, relata Milly Lacombe, jornalista e apaixonada pelo Timão desde os 6 anos.


Descrever uma experiência de consciência alterada é desafiador exatamente porque nos descolamos da razão e das fronteiras que nos definem como nós mesmos. O monge budista Satyanatha, que calcula já ter meditado por mais de 2.000 horas, entende a viagem como uma imersão no reino da intuição. “O corpo físico se torna uma lembrança distante e sinto uma ligação profunda e empática com a natureza. Já tive baratos indescritíveis.

Minhas experiências mais prazerosas na vida não foram sexo, foram meditação”, conta.

Em 2003, Guilherme Nascimento largou a advocacia e decidiu explorar a potência de sua mente. Fez diversos retiros, estudou ioga, rolfing (terapia corporal) e hoje trabalha introduzindo pessoas nesse universo. “Meditar não é o processo de se desligar, e, sim, de se ligar a outro lugar. O tempo fica relativizado, há uma pausa no fluxo contínuo da mente e isso traz um enorme bem-estar. Estar totalmente fixo no momento presente é a grande experiência”, conta.


Esquecer as paranoias do mundo e se permitir curtir o agora, ignorando o tempo e se conectando com outros contextos, é também como se sente Mayara Medeiros, diretora e produtora de cinema, quando encontra “o pornô perfeito”. Ocasionalmente, filmes eróticos fazem com que ela viaje. “Eu paro de perceber meu corpo, me teletransporto para a cena. Tem também uma sensação de quebra de paradigma. Mulher se masturbar é transgressão”, conta. A escritora Thaís Mayume experimenta sensação parecida com filmes de BDSM (bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo). “Essa prática ainda é tabu e vendo os filmes me sinto dentro de um grupo específico”, conta.


Para a ciência, pouco importa se nos sentimos parte de um clube sexual, de uma torcida de futebol ou nos aproximamos da natureza. A neuroquímica cerebral envolvida nas reações é basicamente a mesma. “A gente racionaliza demais o que é bom ou ruim para nós, mas muito disso é preconceito. Minha catarse assistindo a um pornô pode ser muito parecida com a de um evangélico durante um culto”, diz Mayara.


Pastor da Igreja Batista do Caminho (Rio de Janeiro) desde 2012, Henrique Vieira tem 31 anos. Filiado ao PSOL e colunista da Mídia Ninja, ele se afasta dos estereótipos que rondam os evangélicos no Brasil, sem negar o poder da vibração comunitária. “Em momentos profundos no culto, quando há comunhão, o tempo se dilui. Deus age nesse lugar que escapa da compreensão. Não diria que é algo irracional, e sim transracional, porque transcende a razão, não a contradiz. Deus está aí, mas não depende disso para existir”, conta.


O prazer que acompanha os estados de consciência alterada pode ganhar nomes diferentes de acordo com o contexto em que acontecem, mas é sempre fruto da explosão de serotonina e outros neurotransmissores no cérebro. Para os judeus, a sensação é chamada de sassom. “Em momentos de transe durante cantos e orações, sinto uma alegria que é um júbilo. Uma felicidade que não vem de nenhum entendimento, vem da inclusão, da percepção de fazer parte de um fluxo. Quando abandonamos as questões pessoais, encontramos o vínculo divino”, explica Nilton Bonder, rabino em atuação há mais tempo no Brasil e autor do livro A alma imoral.


É muito frequente que as imersões no lado B da consciência sejam interpretadas como místicas ou espirituais. E isso independe de religião. Rodrigo Resende é médico e surfista big rider. Desde os 12 anos, se joga no mar em busca de ondas cada vez maiores e se tornou um dos mais premiados brasileiros da categoria. Ele encara paredões de água de mais de 20 metros. Nessas horas, gosta de estar sozinho no mar. Quanto menos gente, maior é a interação de Rodrigo com essa força misteriosa que o atravessa. “Não é só físico. Sinto uma presença maior. Não sei se são espíritos, mas surfo com eles, através deles, eles comigo. Quando estou em harmonia com o planeta, eles me enviam a onda. Sinto que estou no lugar certo e tudo acontece em câmera lenta. Parece que vou cair, mas não caio. Sinto que alguém me segurou, que estão me guiando”, relata.


Na máquina da ressonância magnética, nossos cérebros são iguais: neurotransmissores produzidos comunicam células e desencadeiam uma tensão elétrica poderosa. A percepção das consequências desse fato, porém, é tão diversa quanto possível. Deus, gozo, gol, mar. Um abismo separa os pragmáticos acontecimentos cerebrais das interpretações individuais de cada transe.


Autor de sete livros sobre a filosofia da mente, o cientista Bernardo Kastrup questiona se a consciência é mesmo gerada pelo cérebro. “Não parece haver nada a respeito das partículas materiais, nem carga, nem massa, que nos leve a compreender as características das experiências individuais. Na minha visão, a consciência não é gerada por partículas cerebrais, ela é universal, sempre esteve na natureza, não depende de nada para existir, nem do cérebro”, arrisca.


A conclusão de que a consciência transcende a biologia humana é compartilhada também pelo monge Satyanatha. “Existe o plano físico, mas há outros canais. Com os treinos e a meditação, é possível começar a captar o resto da realidade e entender que não estamos presos na matéria. É a libertação do aprisionamento da matéria”, diz.


Seja matéria ou antimatéria, é fato que a consciência tem gigantesco impacto em nossas existências e que há ainda muito o que descobrir sobre a maneira como a percebemos. “Tem muita coisa não explicada porque a ciência ainda não chegou lá. Mesmo as experiências místicas vêm dos neurotransmissores”, defende Stevens.


Nascido nos anos 20, o norte-americano Julian Jaynes foi um dos principais filósofos da mente do século passado. Seu livro The origin of consciousness in the breakdown of the bicameral mind, de 1976, chamou a atenção por sua teoria sobre a origem da consciência humana. Ele acreditava que, durante certo momento da história, os Homo sapiens viveram sem se dar conta da própria consciência. Atribuíam a alucinações as vozes que existiam em suas cabeças e que lhes diziam o que fazer. O desenvolvimento da linguagem, especialmente da palavra eu, teria transformado essa realidade e gerado a noção de consciência como a entendemos hoje.


A teoria inspirou a série Westworld, que estreou mês passado sua segunda temporada, na HBO. A diferença é que, na obra, quem nota a própria consciência são os robôs, que até então só existiam para entreter humanos. “Máquinas cada vez mais inteligentes desenvolverão consciência? Seria uma grande quebra de paradigma”, arremata Stevens. Pra pensar...




Hipnose religiosa:


Quando a explicação para o transcendental está no nosso cérebro

Em qualquer culto religioso, todas as sensações que aparentam transcendência, podem ser explicadas com uma única palavra: “HIPNOSE”.


Falar em línguas, incorporar Santos, possessões demoníacas, resposta de orações, sentir a presença de Deus, cair, pular, girar, psicografar, chorar. Para muitos religiosos que passaram por uma experiência de transcendência espiritual, tudo isso parece muito real.



Mas o motivo de tudo isso pode ser descrito em uma palavra: hipnose!


Não falaremos aqui sobre a hipnose de palco. Não se trata, portanto, de uma a análise do trabalho de Fabio Puentes ou Derren Brown – se realmente hipnotizam pessoas, fazendo-as agir da forma como estes hipnotizadores querem que façam. Trataremos da hipnose corroborada pela comunidade científica e que é bastante comum em cultos ou rituais religiosos.


“Hipnose é um procedimento no qual um profissional sugere que a pessoa experimente mudanças em sensações, percepções, pensamentos ou comportamentos.”

Associação Americana de Psicologia


Visto a citação acima, responda: onde mais acontecem estas mudanças de sensações, percepções, pensamentos ou comportamentos?


Igrejas? Centros Espíritas? Seitas e rituais de maneira geral?


Quando frequentamos esses locais vemos pessoas falando em línguas na igreja católica. Mais tarde na igreja evangélica, durante o culto, observava pessoas pulando, gritando, rodando e caindo com um simples toque do líder religioso. No centro de umbanda um Santo tomando posse do corpo de uma mulher, fazendo-a falar com a voz alterada e uma postura descomunal. Num centro espírita Kardecista, presenciamos médiuns vendo espíritos, psicografando e canalizando.


Ao final de qualquer culto, independentemente de qual Deus ou autoridade sobrenatural se comunicava, a sensação dos fiéis era a mesma – uma experiência única e utópica, acompanhada de bem-estar, alivio intenso e sentimento de renovação.


“Deus agiu esta noite”, “Deus não se prova, mas se sente”, “Deus esteve presente”.

Mas, será?


A explicação para os “fenômenos” do sobrenatural, encontramos no livro “Racional: A visão da descrença” (www.racionalolivro.com.br), que as causas dos mesmos são explicadas pela a neurociência, pela psicologia e pela psiquiatria (que, apesar de não ser considerada exatamente uma ciência, faz uso de técnicas baseadas na ciência).


O ESTADO DE TRANSE OU DE ALTA CONCENTRAÇÃO


Antes de começarmos, o primeiro tema a ser tratado é o que chamaremos de “estado de transe”. Quero deixar claro que a semântica da palavra não importará, mas sim a intenção didática da analogia que farei uso, visando simplificar a compreensão de como a hipnose está presente nas instituições religiosas de forma geral.


O estado de transe fará alusão ao foco excessivo, à atenção extrema que faz o sujeito suscetível a sugestões. Não entendeu? Vou simplificar:


Todos nós entramos e saímos do estado de transe o tempo todo. É simplesmente um estado de foco natural: quando nos sentamos em frente ao PC para ficar quinze minutos e não vemos que passam as horas; quando, ao estar dirigindo, damo-nos conta que estamos chegando ao destino, tendo a impressão de não ter notado nada do caminho percorrido; quando nos apaixonamos e não conseguimos ver ou pensar em mais nada (e soltamos um clichê: “estou hipnotizado”). Basicamente o estado de transe acontece quando o consciente “perde” o controle para o inconsciente, suprimindo as tentativas de confirmar as informações vindas dos sentidos. Tudo passa despercebido, inclusive sugestões, já que o senso crítico baixa e o cérebro aceita-as achando que “ele” quem está decidindo.


O transe pode ser dado por qualquer coisa que prenda o foco – imagem, som, cheiro, objeto de pensamento, etc. – e os efeitos fisiológicos incluem relaxamento total, sensação de conforto, experiência positiva e agradável.



Antigamente, acreditava-se que a hipnose era um estado de sono (daí se originou o seu nome, já que hypnos, na mitologia grega, era o Deus do sono), mas na verdade a hipnose está mais para um estado de alta concentração.


Aliás, já adianto que, mais à frente, quando fizer uso da palavra “igreja” e “pastores”, entendam que me refiro não exclusivamente a estes, mas a toda instituição e líderes que fundamentem o sobrenatural.


O que demonstrarei não faz alusão aos pastores como bons hipnólogos (isto depende), mas as influências do ambiente, da crença e outros fatores que geram o estado hipnótico.


“Tudo o que precisamos fazer é ajudar as pessoas a se moverem de um transe negativo para um transe positivo.”

Milton Erickson (criador da hipnose Ericksoniana)


Erickson afirmava, que o objetivo da hipnose era ajudar as pessoas a irem do transe negativo para o transe positivo, através de várias estratégias que demonstrarei neste texto. O transe negativo refere-se sempre a algum sintoma impregnado na mente das pessoas, enquanto o transe positivo (o qual se tenta induzir), à cura.



O transe refere-se ao estado de alta concentração. Imagine, portanto, o transe o estado de oração: fecham-se os olhos, ouvem-se as pessoas ao redor, o pastor ao microfone, a música e tudo o mais, enquanto foca-se veemente em conversar com Deus. As sugestões são dadas por outros fatores que veremos adiante, e o transe junto às sugestões acarreta um “loop hipnótico”. Ao fim do artigo, tentarei esclarecer porque as pessoas falam em línguas, pulam, caem, giram e extasiam-se a ponto de crer que suas sensações provam suas crenças.



O LOOP HIPNÓTICO – “PAI” DO DELÍRIO


Para que o transe positivo (a “cura”) seja induzida, existem requisitos obrigatórios, e a estes darei o nome de “loop hipnótico”. Ele é essencial para que a hipnose funcione e altere as percepções sensoriais de realidade, aprofundando a fé.


O primeiro requerimento para adentrar a transe é a CRENÇA. A crença condiciona o cérebro, gerando o segundo requerimento, a EXPECTATIVA. A expectativa “ativa” imediatamente o terceiro requisito, que proporcionará ao transe as sensações fisiológicas propícias ao que a pessoa crê, a IMAGINAÇÃO. A imaginação, portanto, gera as sensações NEUROFISIOLÓGICAS, requisito este que reforça a crença e gera a EXPERIÊNCIA.


Crença > Expectativa > Imaginação > Neurofisiologia > Experiência > Crença > etc.


Agora vou aplicar o loop hipnótico em um centro de Umbanda que comumente o “santo baixa” nos fiéis. Mas antes cabe explicar uma das maiores descobertas da neurociência, o NEURÔNIO-ESPELHO. Não me aprofundarei neste assunto, mas resumirei o porquê deste neurônio ter sido essencial para nossa sobrevivência como espécie: nossos ancestrais dependeram de sua capacidade de se socializar para sobreviver (criando grupos/ comunidades). O neurônio-espelho é responsável pela adaptação de nosso comportamento em grupo. Ao adentrarmos uma comunidade, tendemos a falar e agir como eles. O neurônio-espelho favorece que as adaptações ocorram de forma natural.


Gosto de citar como exemplo uma pesquisa realizada em 1971 na Universidade de Stanford, sob a coordenação de Philip Zimbardo. Foram selecionados 24 universitários do sexo masculino e o objetivo da pesquisa era simular uma prisão durante duas semanas. Por sorteio, metade dos sujeitos foi selecionada a serem guardas e a outra metade prisioneiros.

Contudo, após seis dias de experimento a pesquisa teve que ser cancelada, já que a maioria dos participantes incorporaram os papeis que lhes foram designados, perdendo a distinção entre realidade e ficção. Isso fez, por exemplo, com que a violência e crueldade irrompessem de forma descontrolada na relação dos guardas para com os prisioneiros, e que muitos destes apresentassem imensas perturbações emocionais. Essa pesquisa acabou se tornando um experimento demonstrativo de que nos adaptamos de forma automática, mesmo em situações contra a vontade própria.


Sabe aquele vídeo bonitinho que seu amigo postou? Aquele, de uma criança de três anos de idade, na igreja orando, levantando as mãos, fazendo gestos e caras? Bom, aquilo não significa nada. É apenas o neurônio-espelho da criança agindo, fazendo-a imitar os gestos e comportamentos que lhe são comuns culturalmente. O neurônio-espelho providenciará que esta criança cresça e tenha seu comportamento influenciado pelos grupos que frequenta. Lembra-se daquele clichê, “diga-me com quem andas e te direi que és”?


Agora que você sabe como funciona o neurônio-espelho, voltemos ao centro de Umbanda onde comumente o “santo baixa”. Os frequentadores do centro acreditam no que seguem, certo?


Se acreditam, então geram uma expectativa sobre aquilo (seja em forma de vontade ou medo). O cérebro já conhece os comportamentos, gestos, tom de voz e postura que uma pessoa com o “santo no corpo” expressa, e “grava” estas informações no inconsciente. Em um transe (ritual para chamar o santo) recheado de sugestões para aprofundá-lo (música e outras que explicarei adiante), dá-se início a imaginação que logo induz as sensações neurofisiológicas (“o santo baixou”) e finalmente gera a experiência que reforça a fé.


Agora vou aplicar o loop hipnótico com o fenômeno da glossolalia (falar em línguas) e depois você mesmo pode aplicar o loop em qualquer “fenômeno sobrenatural”. Vamos lá:


§ O primeiro requerimento para adentrar a transe é a CRENÇA:

“Na igreja que frequento as pessoas falam em línguas.”


§ A crença condiciona o cérebro gerando o segundo requerimento, a EXPECTATIVA:

“Acho tão bonito falar em línguas, gostaria tanto de conseguir falar.”

* Um detalhe: a pessoa observa o fenômeno e aquilo só acontecerá com ela se ela acreditar (falar que não acredita, mas ter medo ou receio, ainda é acreditar…)


§ A expectativa ativa imediatamente o terceiro requisito, que proporcionará ao transe as SENSAÇÕES NEUROFISIOLÓGICAS propícias ao que a pessoa crê, através da IMAGINAÇÃO:


*Aqui o inconsciente, que já tem conhecimento sobre o fenômeno que se viu e se esperou, já está condicionado e o reproduz através da imaginação (a grande arma da hipnose).


§ A imaginação propicia um estado alterado de consciência, que gera a transe por dissociação mental. Ou seja, a mente opera em dissociação – uma parte “sonha” e vivencia, enquanto a outra permanece conectada ao mundo externo. Esse estado passa a ser vivido como realidade, reforçando cada vez mais o loop hipnótico, ad infinitum.


É exatamente por causa da imaginação que a pessoa que fala em línguas na igreja católica, não as falaria no candomblé. O santo que baixa na umbanda, não baixa na católica. O demônio que toma posse na igreja evangélica, não toma posse do presidente dos EUA e autoriza um ataque nuclear.


Quem experimenta um transe hipnótico na igreja, experimenta uma realidade vívida e profunda com seus sistemas imaginativos. Em outras palavras, a pessoa acredita, imagina – e aquilo que imaginou, torna-se real. Ao contrário do que muitos pensam, a hipnose não é um controle de mente, mas uma influência dela.



Enquanto o sujeito está em transe (orando) recebe mensagens que o ajudam a aprofundar o transe e induzir o cérebro ao que a neurociência chama de auto resposta, uma resposta à oração: “Deus irá te proporcionar aquilo que você está buscando! Ele conhece sua batalha, e aquele que busca no Senhor não será desamparado!”. Observem que a sugestão é genérica. Como citado no livro “Racional”, esta sugestão é conhecida por proporcionar o “efeito Forer”; em outras palavras, a sugestão do pastor de que Deus irá proporcionar o que a pessoa está buscando, e que parece ser exatamente para o sujeito que a está ouvindo, é interpretada por todos os sujeitos em transe (orando) como dirigida a cada um deles, mesmo que estejam se concentrando em objetivos diferentes. Desta forma, o sujeito que está buscando melhora na vida amorosa ou profissional, na saúde, na pretensão futura, achará imediatamente que a mensagem dada inconscientemente é a resposta de Deus para sua oração. Agora o sintoma – “não posso, não mereço, não devo, não consigo” – transforma-se em – “você pode, você consegue, você merece, Deus está com você, Deus proporcionará” – dando a impressão de estar sendo respondido pelo próprio “Senhor do universo”.


Um experimento em que uma goteira pingava na testa do sujeito durante a fase de sonhos mais intensos e vívidos, a fase do sono REM. Estancaram a goteira e, logo em seguida, acordaram o sujeito, que ao ser questionado, afirmou estar, em seu sonho, se afogando em uma cachoeira. Isso demonstra o poder de figuração do cérebro durante um estado de transe profundo. Para uma sensação “x”, é produzida uma imagem “y” que a representa.

Imagine o sujeito que estava orando e que deseja que Deus o toque. De repente, o pastor encosta as mãos em sua testa e o empurra. O sujeito deixa-se cair e o restante fica ao poder de figuração da sua própria imaginação.


COMO A MENTE CRIA TUDO ISSO?



A hipnose aplicada em clínica possui um feedback que diverge de pessoa para pessoa. Algumas descrevem a experiência como um estado alterado de consciência, já outras como um estado normal de alta atenção, no qual se sentem muito calmas ou relaxadas. As pessoas dentro da igreja almejam algo que vem do sobrenatural, seja esse algo uma cura, o reconhecimento de um agradecimento ou a resposta a uma súplica. Assim, descrevem a experiência não como um estado alterado de suas consciências, mas como um estado normal, já que para elas os “fenômenos” presenciados na igreja são ocorrências comuns.

Mas como a mente funciona e como a imaginação é capaz de criar a realidade?


Há alguns anos atrás fui diagnosticado com síndrome do pânico e os primeiros sintomas sempre estavam ligados aos sintomas do infarto – braço esquerdo dormente e dor forte no peito. Isto ocorria porque, ao achar que estava morrendo, eu imaginava que ia ter um infarto, e conhecendo os sintomas, inconscientemente minha mente – associada à minha crença de que poderia ter um infarto + expectativa (medo) de tê-lo – produzia-os. Estas “associações desassociadas”, como costumo chama-las, são comuns e me permitem afirmar que a convicção de achar-se doente “conduz” a doença, bem como a convicção da cura pode levar à cura.


Abaixo alguns requerimentos para que as sugestões funcionem na mente:


1 – Autoridade

Na hipnose terapêutica é necessário que o sujeito acredite e colabore com a autoridade que está aplicando a técnica. Já nas igrejas, a indução ao loop hipnótico é mais fácil, já que a expectativa é firmada não somente na autoridade que está à frente do culto religioso, mas no próprio Deus. Neste caso, ainda que o sujeito tenha algum senso crítico relacionado ao seu pastor, ele carece da crítica para com Deus;


2 – Música

Algumas cerimônias constituem uma série de estímulos auditivos, obtidos com tambores, flautas, sinos e cordas. Desta forma, os participantes entregam-se a uma frenética dança giratória, chegando à dissociação do consciente (mantendo-se conscientes, mas com o corpo controlado pela mente inconsciente), produzindo histeria, gritos, saltos ou gestos que que lhes parece culturalmente normal. Todos conhecem os poderes da música, não?


3 – Técnicas

Percebam que estou falando de métodos que funcionam à indução, mas que não necessariamente sejam conscientemente empregadas pelo executante das técnicas. Em outras palavras, o pastor que “prega” eficiente muitas vezes o faz por saber da efetividade de fazer daquela forma, mas não necessariamente saiba como aquilo funciona.

Ainda não ficou claro? Imagine que um “bom” pastor tenha tom de voz, ritmo de fala e de respiração, olhar e postura corporal adequados a um hipnotizador. Portanto seria o pastor um hipnólogo? Talvez não. Ele somente considera-se e é considerado e um pastor eficiente. Inconscientemente sabe prender o foco das pessoas. Apenas!


Claro que existem casos específicos de pastores hipnotistas profissionais que sabem, por exemplo, que uma vez que um feito hipnótico é realizado com sucesso, o resto da plateia se torna muito mais suscetível. Desta forma o pastor pode conseguir um fenômeno conhecido como histeria em massa (uma igreja “pegando fogo”).


4 – Sugestão de mudanças

Para se conseguir a transe de forma mais fácil/rápida, pode-se adotar medidas drásticas arraigadas à doutrina, sugerindo mudança de hábitos no vestir, comer, agir com a família, comportamentos, etc.


No comer é usada à técnica do jejum prolongado, no qual se propicia uma falta de nutrientes ao cérebro que estava acostumado com a ingestão comum e agora fica lento, favorecendo a aceitação de sugestões e melhorando a imaginação.

No vestir e nos comportamentos obrigam-se as pessoas a usar determinadas roupas, pinturas, cortes de cabelo, amuletos e entoar mantras e cânticos que favorecer a sensação de incomum na sociedade (não ser do “mundo”), para levar a uma despersonalização por submissão e aceitação.


No familiar e social, em muitas seitas de origem hinduísta, tiram-se os adeptos de seu núcleo familiar, isolando-os de todo vínculo afetivo e os deixando com uma sensação de fragilidade e carência, que só serão preenchidas pela “nova família”. Desta forma, o guru substitui os pais e os membros da seita são chamados de irmãos.


5 – Obediência

A obediência plena e reiterada é um meio extremamente propício para se iniciar um processo de alienação, de desapropriação de si mesmo e de sacrifício da própria identidade. Obedecer e servir ao Pastor reiteradamente, nem que seja encenando o que ele sugere, desloca o foco e a percepção na direção da vontade dele. Passa-se a perceber o mundo e a si mesmo como o Pastor percebe, enfim, ficando totalmente dominado e sugestionável.


DEUS MUDOU MINHA VIDA E CURAS PELA FÉ


Nossa sociedade está acostumada com um médico que, de cada dez pessoas, curou nove, já que “estudou para isto” e esta seria sua obrigação. Contudo, se um curandeiro, diante de cem pessoas que visitam seu templo, “cura” apenas cinco, o povo associa ao milagre de alguma entidade.


O filósofo Giordano Bruno manifestou isto bem numa frase: “consegue mais o bruxo pela fé, que o médico com a verdade”.



Por diversas vezes ouvi relatos de que Deus mudou uma vida. Pessoas que alteraram seus hábitos, comportamento e padrão de vida quando conheceram a Jesus Cristo. O livro, cita estudos que comprovaram que nossas ações são decididas apenas 5% com o consciente, sendo os outros 95% determinados inconscientemente.


O consciente não se sente confortável com mudanças, mesmo que sejam de nosso interesse. Sua resposta à mudança de comportamento é rígida e unidimensional.

Neurologicamente, quase todas as mudanças de comportamento e reformulação de hábitos e padrões de vida começam e são controladas por nosso inconsciente.


Para mudar o comportamento de forma efetiva é necessário enviar informações diretamente ao inconsciente. Para alterar de forma eficaz antigos padrões de comportamento, a informação deve ser diretamente indireta, mas não manipulativa, e ter a intenção apenas de informar, acrescentando novas informações às antigas. Erickson dizia que não é possível instruir o inconsciente de forma consciente e que sugestões autoritárias enfrentariam resistência. O inconsciente responde a aberturas, oportunidades, metáforas, símbolos e contradições.


A sugestão hipnótica eficaz deve, então, ser “ardilosamente vaga”, deixando espaço para o sujeito preencher as lacunas com seu próprio entendimento inconsciente – mesmo que não consiga entender, de maneira consciente, o que está acontecendo. As transformações ocorridas em cultos ao sobrenatural dão-se pelo inconsciente sugestionado, mas as pessoas associarão tais mudanças à entidade que lhes é comum, enquanto todas as mudanças evoluem a partir de sua própria vontade inconsciente.



Por fim, a hipnose, a meditação, as orações, entre outros de mesma espécie, também influenciam a cura pela fé ou pelo otimismo, também conhecidas como efeito placebo (crença + expectativa que geram aumento do sistema imunológico e colaboram com a cura). Quem de nós nunca assistiu a programas religiosos demonstrando pessoas que sentiam dor e pararam de sentir durante o culto? Os transes podem provocar um extremo relaxamento e isso diminui a dor por dois caminhos:


1. Crescem os níveis do neurotransmissor serotonina, qual vai se concentrar nas áreas cerebrais encarregadas de processar as mensagens químicas de dor, atenuando a sua intensidade. Ademais, diminui o cortisol, hormônio do estresse, que poderia intensificar os sinais dolorosos por nervos espalhados pelo corpo. Então, aquele sujeito que parou de sentir dor durante o culto, volta a sentir dor mais tarde ou deixa de sentir se a causa da dor fosse psicossomática.


2. O transe ainda estimula a produção de moléculas chamadas de moduladores imunológicos que, feito chaves, ligam-se às células de defesa, regulando a sua ação. Assim, evitam que as defesas do organismo ataquem tecidos do próprio corpo. As células imunológicas do sangue tornam-se mais eficientes sem o “freio” do cortisol, o que explica o transe ajudando no tratamento de sujeitos imunodeprimidos.


COMO A HIPNOSE CHEGOU NA RELIGIÃO?


Antes de Franz Anton Mesmer (1734-1815), pai da hipnose moderna, os estados de transe em seus modos de indução estavam relegados ao plano do sagrado, do sobrenatural. Antes do advento da Medicina, como um corpo especifico e privilegiado de conhecimentos e práticas cientificas para a produção ou restabelecimento da saúde, a cura era um processo que estava sempre ligado ao sobrenatural e que passava, invariavelmente, pela religião. Foi Mesmer quem conduziu a prática hipnótica do campo religioso para o campo médico. Hoje o campo da ciência já conhece os variados efeitos de um transe hipnótico e como gerá-los, mas o trabalho de explicá-los na religião ficou por minha conta.

 
 
 

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